O Simepar (Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná) divulgou, nesta segunda-feira (10), imagens impressionantes que mostram a formação da supercélula que deu origem ao tornado que devastou o município de Rio Bonito do Iguaçu, no centro-sul do Paraná, na última sexta-feira (7).
As imagens foram captadas pelo circuito de câmeras da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), em Laranjeiras do Sul, a cerca de cinco quilômetros do local exato da passagem do fenômeno. As gravações ocorreram entre 18h e 18h16 e foram feitas em time-lapse, ou seja, com velocidade acelerada, permitindo observar em poucos segundos a rápida evolução das nuvens e da rotação da tempestade.
No vídeo, é possível observar nuvens densas e em rotação, com intensa atividade elétrica, avançando rapidamente sobre a região — um cenário típico da formação de uma supercélula, tipo de tempestade que pode gerar tornados de grande intensidade.
Segundo o Simepar, a supercélula registrada possuía uma corrente ascendente de ar em rotação, chamada mesociclone, estrutura dentro da qual o tornado se formou. A combinação de calor, alta umidade e ventos com mudança de direção e velocidade em diferentes níveis da atmosfera (cisalhamento do vento) criou o ambiente ideal para o desenvolvimento do fenômeno.
Três tornados confirmados no mesmo sistema de tempestades
Por volta das 18h, uma tempestade supercelular atingiu o município de Rio Bonito do Iguaçu, gerando um tornado de categoria F3 na Escala Fujita, com ventos estimados entre 300 km/h e 330 km/h. Segundo o Simepar, essa intensidade o coloca entre os tornados mais fortes já registrados no Brasil.
Na sequência, outras duas tempestades severas também geraram tornados: uma no distrito de Entre Rios, em Guarapuava, classificada como F2, com ventos próximos de 250 km/h; e outra em Turvo, ao sul da área urbana central, também classificada como F2, com ventos ao redor de 200 km/h.
O tornado mais intenso se formou em Espigão Alto do Iguaçu e adquiriu maior intensidade quando já estava sobre Rio Bonito do Iguaçu. Possivelmente, o tornado teve um diâmetro de 800 metros a um quilômetro. Ele também passou por Porto Barreiro e percorreu uma distância aproximada de 40 quilômetros.
“Foram percebidas algumas torres de transmissão de energia que tinham caído na direção do tornado. A vegetação estava destruída, e foram perceptíveis movimentos relativamente aleatórios nos danos nas árvores. Danos significativos, por vezes totais: algumas árvores que foram 100% destruídas no sentido de que não sobrou nenhuma folha, nenhum galho, apenas o tronco. De forma geral, os carros foram arremessados a cerca de 50 metros de distância. A maioria das casas era de madeira e todas foram completamente destruídas. Edificações de alvenaria foram colapsadas por completo, também”, explica o meteorologista Leonardo Furlan, do Simepar, especialista em tempestades severas e integrante da equipe que realizou as análises.
A supercélula que originou o tornado de Rio Bonito do Iguaçu se formou na altura do município de Quedas do Iguaçu. Foi a mesma estrutura que deu origem ao segundo tornado classificado, no distrito de Entre Rios, em Guarapuava.
“A casa em que um homem morreu em Guarapuava era de estrutura mista, com madeira e principalmente alvenaria, e o colapso foi absoluto. Outras casas e veículos tiveram danos significativos. Durante os sobrevoos também foi analisado o impacto sobre a vegetação. Matas foram destruídas em um padrão muito parecido com Rio Bonito do Iguaçu, mas os danos tiveram menor abrangência”, detalha Furlan.
Outra supercélula, que se formou na cidade de Ibema e passou por Guaraniaçu e Goioxim, originou o terceiro tornado classificado pelo Simepar, já na cidade de Turvo. “Em Turvo, matas foram decepadas, casas de madeira vieram abaixo, mas com estragos também em algumas casas de alvenaria, similar à Guarapuava, porém com menor intensidade. Um carro também foi arremessado sobre uma casa, que virou em escombros. O veículo estava atravessado por pedaços de madeira”, ressalta o meteorologista.
Destruição e vítimas
(Foto: Ari Dias/AEN)
O cenário deixado pelo tornado é de devastação. De acordo com a Defesa Civil e as autoridades locais, cerca de 90% dos imóveis urbanos de Rio Bonito do Iguaçu foram total ou parcialmente destruídos.
O fenômeno causou pelo menos seis mortes confirmadas e deixou centenas de feridos, muitos em estado grave. Mais de 700 pessoas ficaram desalojadas, e centenas de famílias perderam completamente suas casas.
Equipes do Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Exército e voluntários atuam desde o fim de semana no resgate, no atendimento às vítimas e na limpeza das áreas afetadas. O governo estadual decretou estado de emergência, e o envio de ajuda humanitária está em andamento.
Reconstrução e solidariedade
A reconstrução do município deverá levar meses. O governo do Paraná anunciou linhas de crédito emergenciais e envio de materiais para reconstrução. Diversas campanhas solidárias estão sendo realizadas em toda a região para arrecadar roupas, alimentos e materiais de construção.