O Nucria (Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes) identificou mais três vítimas do padre preso em Cascavel. A informação foi confirmada nesta segunda-feira (25).
Duas vítimas são maiores de idade, de 33 e 20 anos, e a terceira tem 16 anos.
O abuso mais recente até o momento apurado teria ocorrido há cerca de duas semanas, dentro da clínica, com a vítima de 20 anos.
As três vítimas prestaram declaração à polícia na tarde de hoje.
O que diz a defesa do padre preso suspeito por abusos em Cascavel?
A defesa do padre de Cascavel, suspeito de abusos, divulgou uma nota sobre a prisão do religioso de 41 anos. Os advogados responsáveis afirmaram no documento que, no dia 14 de agosto o Padre foi intimado pela Diocese de Cascavel do afastamento, decorrente de suposta investigação por crime sexual, inclusive com determinação para deixar a cidade e "internar-se" em Fazenda localizada noutro Estado da Federação, com a justificativa de receber tratamento.
"Neste momento, deve haver respeito ao princípio previsto na Constituição da República Federativa do Brasil, da presunção de inocência, de que ninguém é considerado culpado até que exista uma decisão judicial transitada em julgado, ou seja, aquela que não cabe mais recurso algum", ressalta a defesa.
Entenda o caso completo
Um padre de 41 anos da Arquidiocese de Cascavel foi preso temporariamente no domingo (24) durante a operação "Lobo em Pele de Cordeiro", deflagrada pela Polícia Civil do Paraná por meio do Nucria (Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes).
Como começou
O inquérito foi instaurado em 16 de julho de 2025, a partir de um relatório de inteligência da Polícia Militar que apontava suspeitas de abuso sexual contra menores.
O padre já havia sido afastado das funções religiosas em 14 de agosto pela Arquidiocese, que disse estar seguindo protocolos do Vaticano.
Padrão de comportamento
Segundo as investigações, o religioso teria adotado desde 2010, ainda como seminarista, um padrão de comportamento predatório envolvendo a aproximação de jovens ligados a atividades religiosas, contato com adolescentes em situação de vulnerabilidade social, oferta de presentes, dinheiro, viagens e convites para pernoitar na residência paroquial, além de relatos de dopagem e tentativa de abuso desde os primeiros anos de seminário.
Também foram apontadas irregularidades financeiras na gestão da paróquia e a prática ilegal de terapias em clínica particular.
Encobrimento e acordos
A investigação revelou que em 2010, quando ainda seminarista, o religioso tentou abusar de outro seminarista em estado de sonolência. O caso foi levado ao então arcebispo Dom Mauro Aparecido dos Santos (falecido em 2021), que teria feito os envolvidos assinarem um termo de silêncio, impedindo que o fato chegasse às autoridades.
Há ainda denúncias de que o próprio Dom Mauro teria cometido abusos contra seminaristas entre 2012 e 2013.
Um dos documentos obtidos pela Catve mostra que em 2011 uma vítima assinou declaração considerando o caso encerrado, após relatar o episódio ao reitor, a psicóloga da arquidiocese e ao arcebispo. Especialistas ouvidos apontam que tais acordos podem configurar tentativa de ocultação de crimes.
Posição da Igreja
O atual arcebispo de Cascavel, Dom José Mário Scalon Angonese, declarou que a Igreja reage com sofrimento ao caso e que deseja que a verdade seja esclarecida.
Ele explicou que a Arquidiocese abriu processo canônico interno, com prazo inicial de 90 dias, que depois será remetido a Roma. A pena máxima, se confirmados os abusos, é a perda do estado clerical.
Dom José Mário também destacou que, até o momento, parte das denúncias envolvem adultos e não se enquadram como pedofilia, mas como possível abuso de autoridade.
Defesa do padre
A defesa divulgou nota afirmando que o religioso está colaborando com as investigações, defendeu a presunção de inocência e disse confiar que os laudos de perícia nos aparelhos apreendidos provarão sua inocência.
