Ao menos 20 militares da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) devem ser enviados a Guaíra, no oeste do Paraná, após conflito envolvendo indígenas na região terminar com quatro feridos na última quarta-feira (10).
Em ofício da tarde desta sexta-feira (12) ao qual a TV Globo teve acesso, o Ministério da Justiça e Segurança Pública prevê o deslocamento, de carro, de policiais e bombeiros militares do Rio de Janeiro para a cidade paranaense. A expectativa é que os militares viajem neste sábado (13).
Na noite desta sexta, o Ministério da Justiça explicou, em nota, que Força Nacional já atua em ações de polícia ostensiva e de polícia judiciária no Paraná, principalmente focadas no combate aos crimes na região fronteiriça Brasil-Argentina-Paraguai.
Segundo a pasta, as operações têm sido conduzidas, inclusive, a pedido do governo estadual, conforme portaria publicada em 11 de dezembro de 2023 no Diário Oficial da União (DOU).
Assim, o ministério diz que já havia agentes das Força Nacional na região de Guaíra e que, agora, deve haver reforço do contingente, que totalizará 30 policiais e 10 viaturas.
Também nesta sexta, o secretário de Segurança Pública do Paraná, Hudson Teixeira, afirmou que, em reunião com o Secretário Nacional de Segurança Pública, Tadeu Alencar, e com autorização do governador do estado, Ratinho Junior, foi liberado o reforço da Força Nacional na região.
A atuação da Força Nacional em Guaíra também foi pedida no fim de dezembro ao Ministério da Justiça pelo Ministério dos Povos Indígenas, considerando a escalada de conflito "marcada por recorrente violações de direitos".
O Ministério dos Povos Indígenas trata o caso desta semana como ataque ao povo Avá-Guarani. Em nota na quinta-feira (11), a pasta disse quem conforme denúncias, a ação foi organizada por fazendeiros.
No episódio da última quarta, segundo a Polícia Militar (PM), três indígenas foram baleados por "indivíduo não conhecido" e, após as agressões sofridas, um homem foi agredido e refém pelos indígenas. O refém foi liberado na sequência e todos os feridos receberam atendimento médico.
Uma mulher indígena, que preferiu não ser identificada, afirmou que realizavam um ritual sagrado quando foram atacados.
"A gente ficou sem reação. Foi quando a mulher que estava na frente do nosso altar sagrado, ela já estava deitada esticada no chão, gritando, foi quando a gente teve essa noção de que foi o tiro", disse a mulher.
O depoimento da testemunha foi divulgado pela Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), organização indígena de coletivos do povo Guarani na luta pela terra. Ela afirmou que eles demoraram a entender que eram tiros e só perceberam quando viram as vítimas feridas.
Em nota divulgada sobre o caso, o Batalhão de Polícia de Fronteira (BPFron) diz que as equipes foram recebidas por grupos de indígenas armados com arcos e flechas, facões onde foram disparadas algumas flechas e pedras contra a equipe, mas que nenhum policial foi ferido.
A indígena, no entanto, afirma que nenhum indígena confrontou os policiais.
Na tarde desta sexta-feira (12), o Ministério dos Povos Indígenas esclareceu que relatório que delimita a Terra Indígena Tekoha Guasu Guavira foi publicado pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) em 2018, mas que a própria fundação anulou o ato em 2020, durante o governo de Jair Bolsonaro. Segundo a pasta, é nessa área onde houve o ataque.
"Em 2023, a FUNAI reviu a decisão e retomou o processo de delimitação da terra indígena. No entanto, a demarcação desse território é objeto de duas ações judiciais que tramitam na Justiça Federal (TRF-4). A FUNAI aguarda a decisão judicial para prosseguir com o processo de demarcação da área", diz.
A PM diz ter sido chamada para uma ocorrência na região da Avenida Roland onde, por volta das 21h, um homem teria atirado contra indígenas no local descrito pela PM como invasão.
Também de acordo com a corporação, após os disparos, alguns indígenas, revoltados com a situação, invadiram uma casa. Alguns moradores fugiram, mas um homem de 51 anos permaneceu na residência e na sequência foi levado para a invasão onde foi agredido pelo grupo, afirmou a PM.
O Batalhão de Polícia de Fronteira (BPFron) diz que as equipes foram recebidas por grupos de indígenas armados com arcos e flechas, facões onde foram disparadas algumas flechas e pedras contra a equipe, mas que nenhum policial foi ferido.
O Batalhão diz ter negociado a retirada do refém, que foi levado para um hospital de Guaíra com braço e costelas quebradas, além de machucados na cabeça e nas costas. Ele não corre risco de morrer, segundo a polícia.
Dos três indígenas atingidos por disparos, um recebeu alta e outros dois permanecem internados em estado estável, segundo a Comissão Guarani Yvyrupa.
De acordo com o 1º Tenente do BPFron Vitor Votolini, um grupo de cerca de 50 indígenas está na área onde houve o conflito, que fica perto de uma aldeia. Ele afirma que a polícia ainda não identificou quem atirou contra os indígenas.
A Polícia Federal também prestou atendimento e disse que acompanha o caso e adotará as medidas cabíveis para manutenção da segurança na região.
O secretário de Segurança Pública do Paraná, Hudson Leôncio, esteve em Guaíra na quinta-feira (11) onde se reuniu com representantes da prefeitura e das polícias Civil e Militar, segundo ele, "entender a realidade da região".
"Para que o estado haja com o intuito de garantir ou a reintegração de posse ou restabelecimento da ordem", afirmou o secretário.
"A gente não quer que ninguém venha a óbito numa situação como essa, independente da missão de ser federal ou do estado. Então, o estado está aqui à disposição da União. [...] O agronegócio no estado do Paraná ele é muito forte, obviamente tem toda uma questão econômica, mas hoje nós estamos aqui pra preservar as vidas tanto dos produtores rurais quanto dos índios que estão nessa situação", destacou o secretário.
Conforme a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), a região onde as famílias indígenas estão ainda não está demarcada e registra conflitos constantes com agricultores - ambos afirmam ter direito à área.