Militares da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) estão nesta terça-feira (16) em Guaíra, no oeste do Paraná, na área onde um conflito entre indígenas e agricultores deixou quatro pessoas feridas. Na confusão, três indígenas foram baleados e um caseiro da região foi ferido.
O conflito foi em 10 de janeiro e, pouco depois, o Ministério da Justiça e Segurança Pública autorizou o envio da Força Nacional para a cidade.
Na ocasião, o Ministério dos Povos Indígenas tratou o caso como um ataque ao povo Avá-Guarani.
Conforme o Ministério da Justiça, a Força Nacional está em Guaíra desde a última quinta-feira (11) e o efetivo foi reforçado no domingo (14).
"A partir desta segunda-feira (15), a Força Nacional está atuando no policiamento ostensivo em apoio às forças de segurança do Governo do Paraná e por pedido do Ministério dos Povos Indígenas."
Por segurança, o ministério disse que não dará mais detalhes da atuação na cidade. Não há informações sobre a quantidade de efetivo na cidade, nem até quando eles devem permanecer na região.
No início da manhã desta terça, agentes estavam posicionados na área em que indígenas vivem desde 2009.
Na mesma região, há uma área verde de seis hectares que, conforme as investigações, motivou o conflito após parte dos indígenas migrarem para ela em dezembro de 2023.
Conforme a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), a região onde as famílias indígenas estão ainda não está demarcada e registra conflitos constantes com agricultores – ambos afirmam ter direito à área.
Uma porta voz do povo Avá-Guarani disse que eles não pretendem sair do local, porque, segundo ela, o espaço pertence a eles. Ela destaca que, no dia do ataque, os indígenas foram pegos de surpresa.
"A gente estava em frente do nosso altar, a gente já estava se reunindo pra fazer a reza, como sempre, toda noite, mais ou menos 20h30, onde aconteceu o disparo que 'atingiram' quatro de nós. E aí foi onde realmente a gente pegou o cara que tava correndo da direção dos tiros, foi essa pessoa que foi pego. A gente não manteve ele, como falaram, não fez sequestro", explicou a porta voz.
Na segunda-feira (15), o vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Edson Fachin, determinou a intervenção da Comissão Nacional de Soluções Fundiárias do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para tentar encontrar uma solução dos conflitos na região.
Em nota, a Funai disse que também deslocou equipe para a região do conflito.
O CONFLITO
De acordo com a Polícia Militar, três indígenas foram baleados por "indivíduo não conhecido" e um homem foi agredido e feito refém pelos indígenas, que alegam ter se defendido.
A confusão, segundo a polícia, foi atendida por volta de 21h, após um homem chegar ao local atirando contra os indígenas. Três indígenas feridos foram internados e um deles continua recebendo atendimento hospitalar.
De acordo com uma testemunha, os indígenas estavam em um ritual sagrado quando foram atacados. Ela afirma que o grupo demorou a entender que eram tiros e só perceberam quando viram as vítimas feridas.
Também de acordo com a corporação, após os disparos, alguns indígenas, revoltados com a situação, invadiram uma casa.
Moradores fugiram, mas um homem de 51 anos, caseiro, permaneceu na residência e na sequência foi levado para a área de conflito, onde foi agredido pelo grupo, afirmou a PM. Ele também precisou de atendimento médico e continua internado.
De acordo com a PM, ele não foi o responsável pelos disparos contra o povo indígena.
Na ocasião, o Batalhão de Polícia de Fronteira (BPFron) disse que as equipes foram recebidas por grupos de indígenas armados com arcos e flechas. Ainda segundo o batalhão, algumas flechas e pedras foram disparadas contra a equipe, mas nenhum policial foi ferido.
AUTORIDADES INTERMEDIAM
Um dia após o conflito, o secretário de Segurança Pública do Paraná, Hudson Leôncio, esteve na cidade para reunião com a prefeitura e as polícias Civil e Militar.
O objetivo, segundo ele, foi "entender a realidade da região". Não foram passados detalhes sobre eventuais soluções pensadas para o problema.
No dia da confusão, a Polícia Federal (PF) também prestou atendimento, disse que acompanharia o caso e adotaria as medidas cabíveis para manutenção da segurança.
MINISTÉRIO REPUDIOU
Após o conflito, em nota, o Ministério dos Povos Indígenas disse que famílias indígenas do povo Avá-Guarani foram alvo de novo ataque e que, conforme denúncias, a ação foi organizada por fazendeiros.
A pasta disse que, considerando a escalada do conflito, "marcada por recorrente violações de direitos", no dia 27 de dezembro o ministério pediu ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) a atuação da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP), medida autorizada nesta quinta para garantir a segurança dos indígenas.
Ainda de acordo com a pasta, o conflito de 10 de janeiro não foi o primeiro ataque ao povo que vive no local.
Nos dias 23 e 24 de dezembro, respectivamente, as aldeias Y’hovy e Yvyju Avary foram atacadas com emprego de "milícia rural privada", conforme o ministério.
A motivação foi que, em dezembro de 2023, os Avá-Guarani realizaram "duas ações de retomada" em áreas que estão em processo de regularização fundiária.