O câncer é a principal causa de morte em mais de 10% dos municípios paranaenses, revela um levantamento divulgado ontem pelo Observatório de Oncologia do movimento Todos Juntos Contra o Câncer (TJCC), em parceria com o Conselho Federa de Medicina (CFM). O estudo, realizado com base nos dados do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, aponta que que em 40 dos 399 municípios paranaenses as neoplasias já são as principais responsáveis pelo registro de óbitos.
De acordo com os pesquisadores que assinam o estudo, a doença avança a cada ano e, se essa trajetória for mantida, em pouco mais de uma década já será a maior responsável pelas mortes no Brasil e no Paraná, ultrapassando as doenças cardiovasculares e do aparelho circulatório, que há décadas ocupam a posição número um no pódio, e deixando para trás também as mortes pela violência urbana e o trânsito.
Apenas no ano de 2015, por exemplo, foram registrados ao todo 70.839 falecimentos no Paraná. Desses, 20.379 (28,8%) foram causados por problemas cardiovasculares e do aparelho respiratório. A segunda posição ficou justamente com os cânceres, responsáveis por 13.615 fatalidades. Assim, temos que no Paraná 19,2% das mortes são causadas por neoplasias, acima da taxa nacional de 16,6%.
Acontece, porém, que quando comparados os dados de 2015 com os de 1996, ano que marca o início da série histórica do SIM, verifica-se que o aumento das mortes por câncer foi quase cinco vezes mais acelerado do que aqueles provocados por infartos ou derrames.
O número de mortes por câncer aumentou 94,3% no período analisado. Em 1996, 7.009 pessoas haviam morrido por conta da doença. No mesmo período, houve uma alta de 18,6% entre as vítimas de doenças cardiovasculares, que há 19 anos somavam 17.183 pessoas.
“O aumento da mortalidade pela doença aqui está relacionado, também, às dificuldades enfrentadas pelo paciente para o diagnóstico e para o acesso ao tratamento. Diversos tipos de câncer são preveníveis e outros têm seu risco de morte significativamente reduzido quando diagnosticado precocemente. Nosso objetivo é alertar e engajar os múltiplos atores a somarem esforços no combate ao câncer”, destacou a coordenadora do movimento TJCC e presidente e da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (ABRALE), Merula Steagall.
Quinto colocado
Considerando-se todas as unidades da federação, o Paraná fica em quinto lugar como o estado com maior número de municípios em que os tumores malignos são a principal causa de morte. Apenas São Paulo (52 municípios), Minas Gerais (84), Santa Catarina (95) e Rio Grande do Sul (140) ficam na frente. A situação do estado gaúcho, inclusive, chama a atenção, uma vez que as mortes por câncer representam 33,6% do total, mais que o dobro da média nacional, de 16,6%.
Araucária e Foz do Iguaçu entram na lista
Ao todo, os municípios paranaenses em que o câncer já é a principal causa de morte concentram uma população total de 830.639 habitantes (7,3% dos 11,3 milhões de haabitantes do Estado). Juntos, registraram 1.166 óbitos por câncer, o que dá uma taxa de 140,1 mortes para cada 100 mil habitantes. Além disso, as neoplasias foram responsáveis por 23,6% das 4.948 mortes registradas nessas localidades.
Em sua maioria, as cidades em que o câncer já mata mais até do que os problemas relacionados ao aparelho circulatório e cardiovascular são de pequeno porte. Das 40, 11 (ou 27,5%) possuem menos de 5 mil habitantes. Outras 16 (40%) possuem entre 5 e 10 mil habitantes, ao passo que em nove localidades (22,5%) a população estimada fica entre 10 e 25 mil pessoas.
Grandes municípios do Paraná, contudo, também já registram o câncer como principal causa de óbito. São os casos de Foz do Iguaçu, 7º maior município do Estado com 264 mil habitantes e que em 2015 teve o câncer como causa de 309 das 1.531 mortes (20,2% do total); Araucária, 11º município paranaense em termos populacionais (138 mil habitantes) e que teve 144 das 680 mortes decorrentes de neoplasias (21,2%); Cambé (105 mil habitantes, com 147 de 656 mortes relacionadas ao câncer) e Medianeira (45.586 habitantes, sendo que 65 dos 264 óbitos foram decorrentes de neoplasias).
Só três estados se ‘safam’ do fenômeno, mostra a pesquisa médica
Das 27 unidades federativas, 24 contam com pelo menos uma localidade onde o câncer é a principal causa de mortalidade. Alagoas e Amapá foram os únicos estados onde essa situação não aconteceu, além do Distrito Federal, que, por sua característica administrativa, não se divide em municípios. Nos três, a principal causa de óbito está relacionada às doenças do aparelho circulatório.
Curiosamente, os dados mostram que a maior parte das cidades onde o câncer já é a principal causa de morte está localizada em regiões mais desenvolvidas do País, justamente onde a expectativa de vida e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) são maiores. Dos 516 municípios onde os tumores matam mais, 80% ficam no Sul (275) e Sudeste (140). No Nordeste, estão 9% dessas localidades (48); no Centro-Oeste, 34 (7%); e no Norte, 19 (4%).
Dados da Organização Mundial da Saúde indicam que, em todo o planeta, o câncer é responsável por 8,2 milhões de mortes todos os anos. Cerca de 14 milhões de novos casos são registrados anualmente.
Os 40
Municípios em que o câncer
é a principal causa de morte
Alto Piquiri
Ampére
Araucária
Boa Ventura de São Roque
Bom Jesus do Sul
Bom Sucesso do Sul
Cambé
Campo do Tenente
Conselheiro Mairinck
Diamante do Norte
Doutor Camargo
Enéas Marques
Floresta
Foz do Iguaçu
Guamiranga
Guaraci
Guaraniaçu
Iguatu
Itapejara d’Oeste
Lindoeste
Lobato
Mandaguaçu
Mariópolis
Medianeira
Mercedes
Munhoz de Melo
Nova Esperança do Sudoeste
Piên
Prado Ferreira
Presidente Castelo Branco
Primeiro de Maio
Rio Branco do Ivaí
Santo Antônio do Caiuá
São Carlos do Ivaí
Sulina
Tibagi
Tuneiras do Oeste
Turvo
Verê
Virmond