Há seis meses, a dona de casa Adriana Franco não sabe onde está o filho Mateus Eduardo da Silva, de 24 anos. Ele desapareceu em janeiro, após dizer para a mãe que iria visitar um amigo.
O rapaz morava em Mandirituba, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), e avisou que ia até a casa de um colega em Almirante Tamandaré. Um dia depois, Adriana ligou para o celular do filho, enviou mensagens, mas não teve respostas.
O jovem está entre as mais de 3 mil pessoas que desapareceram no Paraná este ano.
A mãe registrou um boletim de ocorrência de desaparecimento na Polícia Civil e disse que ainda não recebeu novidades sobre a investigação.
“Eu tenho a sensação de abandono total. Não dá para esperar nada das autoridades. Eu gostaria que tomassem alguma atitude. A cada dia parece que estou morrendo aos poucos. Não tenho vontade de trabalhar, de conversar com outros filhos, com minha neta, que é filha dele”, desabafa.
Adriana disse que no dia do desaparecimento o filho vestia um calção jeans, camiseta e tênis pretos.
Em fevereiro, um corpo em avançado estado de decomposição foi encontrado pela Guarda Municipal de Quatro Barras, na Estrada da Graciosa, também na Região Metropolitana de Curitiba. A mãe acredita que o corpo seja de Mateus.
Por enquanto, a Polícia Civil trata o caso como desaparecimento. A Polícia Científica disse que já coletou o DNA dos familiares de Mateus.
Mais de 3 mil desaparecidos
O desaparecimento de Mateus Eduardo é um dos 3.463 registrados no Paraná de janeiro a 19 de julho em 2024 - uma média de 17 pessoas desaparecidas por dia.
O dado da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) foi obtido pelo g1 por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI).
O balanço inclui os boletins de ocorrências feitos nas delegacias ou de forma online. Entre os desaparecidos, 2.165 são homens e são 1.298 mulheres.
Nos últimos quatro anos, o número de pessoas desaparecidas vem crescendo:
Prazo de 24 h é 'mito'
Segundo a delegada Iara Dechiche, da Delegacia de Proteção à Pessoa de Curitiba, a polícia deve ser avisada o mais rápido possível em caso de desaparecimentos, o que pode ajudar nas investigações.
“Nós aconselhamos a família a procurar a delegacia mais próxima ou fazer pela internet mesmo. Quanto mais rápido, melhor. A pessoa deve levar o número de algum documento e uma foto de quem está desaparecido. A imagem é colocada em nosso site, que pode ser acessada por qualquer um”, esclareceu.
De acordo com a delegada, ainda existe o mito de que é preciso esperar 24 horas para fazer um boletim de ocorrência de desaparecimento, o que pode atrapalhar as apurações.
“Essa é uma história falsa. Tão logo se perceba que a pessoa está desaparecida, que ela não responde mensagens ou atenda ligações, procure a polícia. E se ela for encontrada, é importante retornar à delegacia para que seja feito o registro de que aquela pessoa foi localizada. Se isso não for feito, ela pode ter problemas para obter um documento ou fazer uma viagem, por exemplo”, concluiu.
Os desaparecimentos de crianças e adolescentes de 0 a 12 anos incompletos no Paraná são investigados por uma delegacia especializada, o Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride), criado em 1995.
Segundo o último levantamento divulgado pela Polícia Civil, o Sicride investigou 971 desaparecimentos entre 2018 e 2023, sendo 515 de meninos e 456 de meninas. Todos os casos foram resolvidos, conforme a corporação.
A busca por Mateus
Em nota, a Polícia Civil informou que continua investigando o desaparecimento de Mateus Eduardo da Silva e confirmou que a Polícia Científica "já colheu material genético da família".
Porém, a corporação disse que até o momento nenhum corpo apresentou compatibilidade com o DNA da mãe e que a família será notificada caso haja identificação positiva.
A pasta garantiu que vem trabalhando junto com a Polícia Civil para que todos os cadáveres que apresentem algum vínculo com o caso sejam submetidos à comparação de DNA com a amostra dos familiares do jovem desaparecido.
Também em nota, a Polícia Científica explicou que o DNA coletado está sendo confrontado com amostras de cadáveres não identificados, mas ressaltou que nem "todos possuem condições boas de extração de material genético".
A Polícia Científica explicou que a identificação oficial de um corpo é feita por pelo menos uma de três técnicas: papiloscopia, odontologia ou DNA.
Os cadáveres não identificados até o 15º dia a partir da entrada na Polícia Científica serão encaminhados para sepultamento.
O enterro propriamente dito ocorre após o 30º dia da entrada do corpo. Os prazos foram definidos pela lei estadual 19.362/2017.
De acordo com a Polícia Científica, todos os cadáveres não identificados encaminhados para sepultamento têm dados inseridos no Banco de Perfis Genéticos do Paraná, ligado à Rede Nacional de Bancos de Perfis Genéticos (RIBPG).
As características são então incluídas no Sistema Nacional de Localização e Identificação de Desaparecidos (SINALID).